Casais fazem de limousine motel ambulante

Jornal Folha de São Paulo

 

Por R$ 450 a hora, carros de luxo são alugados em SP para serem cenário de namoro, com pétalas de rosa e champanhe

 

Empresas do setor afirmam que a tendência do mercado de aluguéis de luxo é usar o carro para fins particulares, como despedida de solteiro.

 

            É noite em São Paulo e a "Grande Blazer Limousine", preta e brilhante, após derramar seus 8,7 metros pelas ruas, pára no sinal vermelho. Olhos curiosos tentam, em vão, enxergar o que se passa lá dentro pelos vidros com película negra. Mas ela parte em silêncio rumo a Santos, sem nada revelar da "decoração romântica" com pétalas de rosa, plumas e champanhe em balde de prata. Nem do casal que trocava carícias, sem roupa no chão do carro, ao som de Diana Krall.

            "É uma coisa exibicionista, mas você entra na onda, na loucura do momento, com os outros lá fora olhando e não vendo nada", revela um Alexandre sem sobrenome, mas satisfeito com os R$ 3.500 gastos nas cinco horas do "passeio noturno" até Santos.

            A idéia era repetir a emoção do filme "Uma Linda Mulher" em um passeio longo, com tempo para intimidade. "No começo ela ficou retraída, maio sem graça", conta Alexandre. Mas os DVDs "picantes", o jazz envolvente e o champanhe ajudaram. "Já na saída da cidade começou a pegar fogo", com ela sem roupa olhando para rodovia - e metade do corpo para fora do teto solar.

            Pois lá se foi o tempo em que as limousines eram restritas a filmes, novelas e casamentos de véu e grinalda. A tendência do mercado de aluguéis de luxo é usar o carro para "fins particulares"; de esquenta para baladas a despedidas de solteiro; da ida com estilo ao motel até por que não, "cumprir o fim ali mesmo", no confortável banco de couro, rodando pela cidade.

            "Quando a gente olha a mulher está girando o sutiã para fora do carro", conta o chofer, pedindo anonimato. "Mal a gente fecha a porta já começa", diz. "Nem ligam para o trajeto. Pena a gente não ver nada".

 

Mercado crescente

            Os anuncio de locadoras especializadas em limousines já pipocam nas revistas do hall de entrada da Black Tié - empresa que nasceu há dois anos com apenas uma "limo", mas que há meses abriu seu showroom com cinco carros em São Paulo.

            A idéia era sair do batido ramo casamenteiro. "Eu ate tentei parar de fazer casamentos, mais ainda é arriscado", afirma Alexandre Martins, relações públicas da empresa. Ele explica que, se nos EUA a limousine é sinônimo de status e glamour, no Brasil ficou atrelada às noivas. "Queremos mudar essa imagem e associar as 'limos' modernas a outro público."

            Hoje, 60% dos cerca de 20 aluguéis mensais da empresa - a R$ 450 a hora - ainda são para casamentos. Mas nos outros 40% há de transfers para balada a "passeios noturnos". Um filão discreto, que cresce no boca a boca.

            São Geralmente as mulheres que ligam para as locadoras. Tímidas, perguntam se há comunicação entre o chofer e a parte de trás. Confirmam então que o contato só é feito por interfone. E marcam um passeio de, em média, quatro horas - por cerca de R$ 1.800.

            "Dá para ser bem privado", garante a advogada E.M., 29, que trouxe o marido de Sorocaba para uma noite no motel da capital - mas o surpreendeu com a limousine decorada com almofadas bordadas e trechos dos filmes românticos que marcam a vida do casal passando nas telas de plasma.

            "O motel é legal, mas comum. Já a limousine é uma fantasia sexual praticada no meio da rua", diz a advogada - que não hesitou em abrir o teto do carro e jogar pétalas cor de champanhe nas pessoas que passavam. "Logo a gente se soltou e aproveitou tudo que podia ali dentro. Foi uma delícia".

            Assim o marcado do amor sobre rodas vai crescendo. E.M. soube da "limo" ao procurar a jantar a 2, empresa especializada em "noites românticas" - que de cada 30 pedidos mensais de "eventos personalizados", sete incluem limousine.

            "Nós deixamos o cliente escolher desde a cor da pétala de rosa até a marca de champanhe", diz a dona do negócio, Carina Chaves. Tanto que ela lança em fevereiro pacote "Festa na Limousine", para expandir o uso para outros eventos.

            "Eu até sugiro que ela escolha uma lingerie sensual e que se sinta à vontade, porque há discrição total", garante o dono da Black Tié. Mas sempre com "alto nível". Porque "o que mais tem é neguinho querendo fazer bacanal dentro da 'limo'", conta. "Até filme pornô nos meus carros já quiseram fazer. Mas meu publico é 'target A', esse tipo de coisa não aceito".