Jornal Folha de São Paulo
Por R$
Empresas do setor afirmam que a tendência do mercado de aluguéis de luxo é usar o carro para fins particulares, como despedida de solteiro.
É noite
"É uma coisa exibicionista, mas você entra na onda, na loucura do momento, com os outros lá fora olhando e não vendo nada", revela um Alexandre sem sobrenome, mas satisfeito com os R$ 3.500 gastos nas cinco horas do "passeio noturno" até Santos.
A idéia era repetir a emoção do filme "Uma Linda Mulher" em um passeio longo, com tempo para intimidade. "No começo ela ficou retraída, maio sem graça", conta Alexandre. Mas os DVDs "picantes", o jazz envolvente e o champanhe ajudaram. "Já na saída da cidade começou a pegar fogo", com ela sem roupa olhando para rodovia - e metade do corpo para fora do teto solar.
Pois lá se foi o tempo em que as limousines eram restritas a filmes, novelas e casamentos de véu e grinalda. A tendência do mercado de aluguéis de luxo é usar o carro para "fins particulares"; de esquenta para baladas a despedidas de solteiro; da ida com estilo ao motel até por que não, "cumprir o fim ali mesmo", no confortável banco de couro, rodando pela cidade.
"Quando a gente olha a mulher está girando o sutiã para fora do carro", conta o chofer, pedindo anonimato. "Mal a gente fecha a porta já começa", diz. "Nem ligam para o trajeto. Pena a gente não ver nada".
Mercado crescente
Os anuncio de locadoras especializadas em limousines já pipocam nas revistas do hall de entrada da Black Tié - empresa que nasceu há dois anos com apenas uma "limo", mas que há meses abriu seu showroom com cinco carros
A idéia era sair do batido ramo casamenteiro. "Eu ate tentei parar de fazer casamentos, mais ainda é arriscado", afirma Alexandre Martins, relações públicas da empresa. Ele explica que, se nos EUA a limousine é sinônimo de status e glamour, no Brasil ficou atrelada às noivas. "Queremos mudar essa imagem e associar as 'limos' modernas a outro público."
Hoje, 60% dos cerca de 20 aluguéis mensais da empresa - a R$
São Geralmente as mulheres que ligam para as locadoras. Tímidas, perguntam se há comunicação entre o chofer e a parte de trás. Confirmam então que o contato só é feito por interfone. E marcam um passeio de, em média, quatro horas - por cerca de R$ 1.800.
"Dá para ser bem privado", garante a advogada E.M., 29, que trouxe o marido de Sorocaba para uma noite no motel da capital - mas o surpreendeu com a limousine decorada com almofadas bordadas e trechos dos filmes românticos que marcam a vida do casal passando nas telas de plasma.
"O motel é legal, mas comum. Já a limousine é uma fantasia sexual praticada no meio da rua", diz a advogada - que não hesitou em abrir o teto do carro e jogar pétalas cor de champanhe nas pessoas que passavam. "Logo a gente se soltou e aproveitou tudo que podia ali dentro. Foi uma delícia".
Assim o marcado do amor sobre rodas vai crescendo. E.M. soube da "limo" ao procurar a jantar a 2, empresa especializada em "noites românticas" - que de cada 30 pedidos mensais de "eventos personalizados", sete incluem limousine.
"Nós deixamos o cliente escolher desde a cor da pétala de rosa até a marca de champanhe", diz a dona do negócio, Carina Chaves. Tanto que ela lança em fevereiro pacote "Festa na Limousine", para expandir o uso para outros eventos.
"Eu até sugiro que ela escolha uma lingerie sensual e que se sinta à vontade, porque há discrição total", garante o dono da Black Tié. Mas sempre com "alto nível". Porque "o que mais tem é neguinho querendo fazer bacanal dentro da 'limo'", conta. "Até filme pornô nos meus carros já quiseram fazer. Mas meu publico é 'target A', esse tipo de coisa não aceito".