Sérgio Dávila
de Nova York
Folha de São Paulo
Primeiro, foram as salas de cinema. Nos últimos 12 meses, três delas fecharam suas portas na Times Square, o principal cartão-postal de Nova York, que vê passar 1,5 milhão de pessoas por dia.
Agora, a desaceleração econômica por que passa a economia norte-americana faz sua vítima mais visível no local; os outdoors.
Sim, continuam lá o tradicional cartaz da Coca-Cola, a moderna tela Astrovision da emissora NBC e o monitor de negócios da Bolsa Eletrônica Nasdaq, que reúne os papéis das empresas da chamada nova economia.
Mas, há poucas semanas, pelo menos cinco dos até então concorridíssimos painéis de propaganda da região vagaram.
São cerca de 100 espaços publicitários na área, que exibe anúncios desde o começo do século passado.
Os mais caros atualmente têm aluguéis que podem chegar a US$2 milhões por ano.
Não todos, porém.
Segundo a empresa Spectacolor Communications, que possui cerca de 50 pontos espalhados pela Times Square, a maioria deles eletrônicos, os preços em geral caíram cerca de 25% nos últimos quatro meses.
Anúncio velho
Há até um recurso, algo patético que os donos dos pontos estão usando.
Não tiram os cartazes velhos dos outdoors, mesmo que o contrato já tenha vencido, para evitar o efeito psicológico negativo que um espaço em branco poderia provocar.
Na esquina da Segunda Avenida com a rua 106, por exemplo, um painel enorme anuncia a empresa AngryMan.com.
Detalhe: a pontocom fechou há mais de um mês.
Na Terceira Avenida, mais ao sul, Sandra Bullock divulga o filme"Miss Congeniality", que estreou nas telas norte-americanas no fim do ano passado. Mais ao centro, na valorizada esquina da Sétima Avenida com a rua 42, o anúncio fantasma é de "Atilla", telefilme de janeiro.
Pessimismo pontocom
A Outdoor Advertising Association of America, que reúne nacionalmente as empresas do setor e entrega todos os anos o cobiçado Obie Awards, o Oscar da área, discorda da onda pessimista.
O setor de imprensa da entidade contra-argumenta com números.
O mercado de outdoors movimentou US$5,2 bilhões no ano passado ou 2% de toda a mídia dos Estados Unidos.
O valor significa um aumento de cerca de 8% em relação ao ano anterior, que por sua vez já havia crescido 9,4%.
Deste total, US$ 290 milhões vieram da cidade de Nova York, que cresceu 16% no mesmo período. O problema ao fechar as contas relativas a este ano, porém, será a debandada das empresas ponto.com.
Estas empresas responderam por US$ 100 milhões do total dos anúncios no ano passado.
Vieram cobrir o buraco deixado pela indústria do tabaco, que foi proibida de anunciar, e chegaram a crescer 670% em relação a 1999.
Agora, não devem chegar nem a US$ 50 milhões.
Réveillon
Há exceções, claro. Para o número 1 da Times Square, onde em todos os réveillons cerca de 500 mil pessoas do mundo inteiro se aglomeram para ver a passagem do ano, o aluguel anual continua a US$ 2,5 milhões e uma fila de candidatos espera vez.
Seu vizinho, postado exatamente em frente, mas do outro lado da praça, com cerca de 40 metros quadrados de área, acaba de fechar com o uísque Suntory por um valor semelhante.
Para a Sherwood Outdoor, dona do espaço, ambos os lugares são sua jóia da coroa.
O que começa a preocupar a empresa são os vazios deixados em locações menos nobres, como a Riverside Drive, ao longo do rio, onde a vacância chega a 30% atualmente.