Valorização atinge terrenos e aluguéis

São Paulo, 31 de julho de 2005                                                     Folha de São Paulo

 

Zona Livre Preço de vendas de casas já subiu 30%; valor de lotes deve dobrar em dois anos, e o de locações, em seis meses.

 

Quem negocia as casas e os apartamentos usados do entorno do Carandiru já sentiu os efeitos da nova paisagem. "O presídio depreciava o local. Um imóvel que valia R$ 100 mil era vendido por R$ 60 mil. Hoje, passou a valer R$ 78 mil, 30% a mais'', estima Egydio Gomes, delegado do Creci-SP (conselho dos corretores).

A valorização começou com as primeiras implosões. "Em 2004, os terrenos ficaram de 10% a 20% mais caros'', avalia o auditor de investimentos Bernd Rieger, 64. "Mas o valor dos lotes pode dobrar em dois anos'', estima.

Atualmente, o perfil predominante dos empreendimentos que rodeiam o ex-cárcere é o de casinhas "da década de 50, em pequenos lotes e ruas estreitas, habitadas por italianos", especifica Regina Monteiro, 48, conselheira do movimento Defenda São Paulo. "Há vilinhas antigas também."

Esses Imóveis já tiveram um valorização de 10% a 30%, mas, para atingirem um valor próximo ao dos de Santana que nunca tiveram um presídio vizinho ainda serão necessários mais dois anos.

Para Ribamar Ferreira de Sousa, 38, promotor de locação da imobiliária Mirantte, os preços de aluguel deverão subir já nos próximos seis meses. "Poderão até dobrar", diz. "Uma casa que era alugada por R$450 mensais passará a valer cerca de R$800."

"Imóveis comerciais também tiveram boa valorização, sobretudo os mais próximos ao shopping Center Norte", pontua Gomes.

 

Bares e favela      

Mas, apesar das melhorias implementadas, ainda há muito a ser feito. “Enquanto o presídio feminino não sair dali, não teremos mudanças mais significativas”, ressalva Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp. Outro problema é uma favela “encostada no conglomerado”, lembra Gomes.

Moradores de prédios próximos reclamam de bares e de camelôs que ocupam a rua Voluntários da Pátria. “As vias ficam imundas”, diz a radialista Izaura Marques Piffer, 82, dona de um apartamento na rua Comendador Joaquim Monteiro há 20 anos. “Mas não haverá mais filas de visitantes para os presos, e o parque trará lazer para os moradores”.

Além do parque da Juventude, parcialmente entregue e que deverá estar pronto em 2006, o governo do Estado pretende construir um teatro e um centro de convenções no terreno que abrigava os pavilhões demolidos. Dos presídios, deve continuar em funcionamento apenas o feminino.

Dois outros prédios não implodidos abrigarão um centro de informática, uma Escola Técnica Estadual e cursos de medicina alternativa, meditação, dança, música e artes cênicas.